Sobre o documentário:
É tudo verdade - debate com as diretoras Anna Muylaert e Lô Politi
Conversas sobre as coisas que leio, ouço, vejo e quero compartilhar. Um arquivo de textos jornalísticos e críticos e imagens...fragmentos de ideias, imagens e pensamentos sobre as coisas pelas quais me interesso: arquitetura, artes, cidades, cinema, design, filosofia, fotografia, literatura, memória, moda, música... Peço que, ao mencionarem ou reproduzirem o conteúdo deste blog, deem os créditos, especialmente das fontes originais (Mário Santiago)
"Muito já se escreveu sobre a arte da poesia, ou da narrativa, mas nada sobre essa outra arte tão dura e demandante de rigor que é a de silenciar quando não se tem o que dizer, ou o desejo de dizê-lo, ou, principalmente, os recursos para tanto. Este pequeno ensaio visa a preencher essa lacuna para aqueles que se iniciam na atividade literária, ou aqueles, veteranos, que se veem impelidos a continuar simplesmente porque começaram.
Aos aspirantes a escritor que se sentem torturados pela desconfiança de que não têm aptidão para o ofício, pode-se dizer que, quase sempre, estão certos. Mas é bom lembrar que somente os que duvidaram da própria incapacidade, através da ação, tiveram a oportunidade de confirmá-la. E também que escrever talvez seja, em grande parte dos casos, muito mais o exercício de uma vontade, às vezes férrea, do que a realização de uma vocação irreprimível, como aquela de um Rimbaud (mesmo assim parou logo) ou de um Jarry, que escreveu o seu primeiro Ubu para gozar um professor." (Trecho de O conto não existe, do escritor Sérgio Sant´Anna)
"Desde a Idade Média até a Revolução Francesa, um homem se tornava rei por meio de uma cerimônia religiosa na qual era ungido e consagrado pelo papa. A cerimônia possuía quatro funções principais: em primeiro lugar, afirmar que rei é escolhido por uma graça divina, sendo rei pela graça de Deus, devendo representa-lo na Terra (ou seja, não representa os súditos, mas Deus); em segundo, que o rei é divinizado, passando a ter, além de seu corpo humano mortal, um corpo místico imortal, seu corpo político; em terceiro, que o rei é Pai da Justiça, isto é, sua vontade é lei (ou como diz o adágio: o que apraz ao rei tem força de lei); em quarto, que é Marido da Terra, isto é, o reino é seu patrimônio pessoal para fazer dele e nele o que quiser." (Texto da filósofa Marilena Chauí, publicado no site A terra é redonda em 27 Mai. 2021)
Inicio aqui alguns posts que realizarei a partir, entre outros, do magnífico acervo de cartas do Instituto Moreira Salles, Correio IMS. Quanta história pode ser lida através da correspondência dos escritores... No próximo dia 28 de maio/2021, comentarei alguns desses belos documentos no programa do jornalista e amigo Vinícius Cabral no Facebook e You Tube.
“Cada um tem suas razões: para este, a arte é uma fuga; para aquele, uma maneira de conquistar. Mas pode-se fugir para um claustro, para a loucura, para a morte; pode-se conquistar pelas armas. Por que justamente escrever, empreender por escrito suas evasões e suas conquistas? É que existe, por trás dos diversos desígnios dos autores, uma escolha mais profunda e mais imediata, que é comum a todos. Tentaremos elucidar essa escolha e veremos se não é em nome da própria opção de escrever que se deve exigir o engajamento dos escritores.” (Jean-Paul Sarte, O que é a literatura?, Ática, 2004)
Do exílio, Augusto Boal escreve para os seus "caros amigos"
Carta de Augusto Boal para Chico Buarque
"Chico,
Ando nervoso, ansioso, querendo que esse julgamento recomece de uma vez,querendo ganhar de goleada, 10 x 2, mas aceitando um 7 x 6 e não querendo nempensar no contrário. Fico com os olhos grudados no telefone esperando um chamadode Brasília gritando “Ganhamos!”. Vai ser hoje, amanhã, quando? Vamos ver..." (Fragmento de uma carta. Buenos Aires, 3 Mai. 1976)
Meus caros amigos - Augusto Boal - Cartas do exílio
Chico Buarque (1975)
Fernanda Montenegro (1984)
Carta de Ana Cristina Cesar para Caio Fernando Abreu
"Te escrevo, Caio querido, com teu telefonema ainda quente, deixo Proust de lado e a burocracia editorial da lista de nomes e endereços e ceps, que me consola como um álbum de figurinhas. Ando gemebunda. Aguardo bem o livro mas com aflição do número imprensa e dos falsos elogios dos amigos. Lançamento vai ser num lugar ideal, o que para mim significa: a dois metros de casa, nem saio da Baixa Gávea. Detestei fazer a tal biografia, redigi durante dias tentando não fazer número nenhum,atingir uma espécie de grau zero qualquer. Vã. Tomo decisões que não sei se cumpro:levantar cedo, fazer exercícios na praia; ler os clássicos; arrumar a casa. Tudo bem ao chão porque disseram que sou toda ar com o trio gêmeos/leão/libra (por ato falho escrevi “virgo”). Fiz o mapa. Lê pra mim? O astrólogo achei vago, geral demais, muito do perguntador, o que tirava o charme dos adivinhadores e fazia dele, embora americano tranquilo, um sacador de pistas que eu mesma dava. E tudo tão caro! Olha, meu corpo todo dói...". (Fragmento de uma carta - Rio de Janeiro 17 Nov. 1982)
Considerado um dos maiores contistas do Brasil, Caio abordou temas como solidão, medo, a certeza da morte, o sexo e a atmosfera política (ele mesmo foi perseguido durante a ditadura militar). Autor das obras-primas “Os Dragões Não Conhecem o Paraíso” e “Morangos Mofados”, ele se tornou amigo de importantes figuras do meio cultural. São justamente a memória e a literatura que conectam as amizades pelas diferentes partes do mundo onde Caio esteve. Espalhados por aquelas cidades, seus amigos — como Maria Adelaide Amaral, Luciano Alabarse, Grace Gianoukas e Adriana Calcanhotto — recorrem à sua obra e interpretam seus textos para, assim, celebrarem a existência do escritor." (Trecho da nota publicada no jornal SP Norte)
"A Fundação José Saramago nasceu porque uns quantos homens e mulheres de diferentes países decidiram um dia que não podiam deixar sobre os ombros de um só homem, o escritor José Saramago, a bagagem que ele havia acumulado ao longo de tantos anos, os pensamentos pensados e vividos, as palavras que cada dia se empenham em sair das páginas dos livros para se instalarem em universos pessoais e serem bússolas para tantos, a acção cívica e política de alguém que, sendo de letras e sem deixar de o ser, transcendeu o âmbito literário para se converter numa referência moral em todo o mundo. Por isso, para que José Saramago pudesse continuar a ser o mesmo, soubemos que tínhamos a obrigação ética de criar a Fundação José Saramago e assim, dando abrigo ao homem, aumentarmos o tempo do escritor, sermos também a sua casa, o lugar onde as ideias se mantêm, o pensamento crítico se aperfeiçoa, a beleza se expande, o rigor e a harmonia convivem."
"Los típicos libros de entrevistas suelen ser transcripciones de diálogos que muchas veces surgen en el marco de una coyuntura, como suele ser la aparición de un título nuevo de un autor. Pero esto es otra cosa: se pensó desde un comienzo como un rescate de esos pasajes de las charlas en que los mismos entrevistados descubren algo imprevisto en relación a la vocación o a la forma en que ejercen el oficio, eso que no tenían previsto decir, pero algún tipo de revelación irrumpe durante la misma conevrsación y los sorprende. Es lo que a veces sobreviene a ese silencio incómodo en el que el propio autor percibe qjue desconoce la respuesta, y entonces puede sobrevenir lo inesperado" (Verónica Abdala, autora de Café literário - la pulsión de escribir)
"Ser um “portinari” — dizia a plaquinha com data de 914 rastreada na Internet — significava encontrar alegria na felicidade do outro, ajudar o próximo, emprestar o ombro."
(trecho da entrevista com o filho de Portinari, publicada pela Fundação Osvaldo Cruz)
Alguns posts inspirados na leitura do livro Portinari amico mio - cartas de Mário de Andrade a Candido Portinari, Organização, introdução e notas de Annateresa Fabris (Editora Autores Associados, Campinas, 1995).
Fragmentos do livro de Annateresa Fabris
Algumas obras citadas no livro acima podem ser vistas aqui.
"Los relatos de El remitente misterioso de un joven Marcel Proust han permanecido inéditos durante más de un siglo. La mayoría de los textos, presumiblemente escritos a fines del siglo XIX, pone en evidencia el deseo homosexual de forma tan osada como explícita." (Prólogo do escritor argentino Alan Pauls, publicado no jornal Página 12, edição de hoje)
“Trinta de maio foi sábado e dele só me lembro quando ao lusco-fusco apareceu Freitas Valle com todos seus satélites, sendo os principais Zadig e Elpons (…) quando mamãe perguntou se ele gostava do retrato de Georgina, disse ele – Minha senhora, não se ofenda se sou franco, mas esse quadro está crivado de erros, o desenho é fraco e é um carnaval de cores. O valor artístico não tem nenhum.” (Matéria interessantíssima publicada no jornal da USP do dia 08/03/2017)
"Pós-Modernidade: tempo da velocidade, da imagem, da linguagem cifrada da comunicação digital. O que levaria uma jovem a interessar-se pela leitura de cartas manuscritas trocadas entre artistas (escritores e pintores), nas primeiras décadas do século XX? Talvez, quem sabe, a descoberta e o prazer, propiciados pela leitura, de voltar no tempo, um tempo marcado pelas mudanças trazidas pela modernidade: a luz elétrica, o bonde, as novas avenidas, os primeiros cafés." (Texto integral do artigo assinado por Ana Carolina Simões Fatecha, Sandra Maria Costa Cardoso e Verônica de Almeida Soares). Leitura recomendável
"Um país é especialmente contraditório quando dá as costas para aqueles que mais o defendem. Mário de Andrade fez muito pelo Brasil, mas foram necessárias sete décadas de ausência sua para que começássemos a fazer jus à sua suculenta obra artística e ao seu valioso legado de gestor cultural, ainda tão pouco analisado. Esse lapso por fim se vê ameaçado em 2015, ano em que se celebram os 70 anos de sua morte, com uma série de homenagens e conteúdos que pretendem jogar luz sobre sua marca modernista e também sobre sua trajetória pessoal." (Trecho da matéria publicada no jornal El País/Brasil, em 10 Maio 2015)
Recebi esta imagem ontem, postada por Gabriella Truzzi em um grupo de amigos no Facebook. Sua autora é a artista britânica Jenny Saville...