Conversas sobre as coisas que leio, ouço, vejo e quero compartilhar. Um arquivo de textos jornalísticos e críticos e imagens...fragmentos de ideias, imagens e pensamentos sobre as coisas pelas quais me interesso: arquitetura, artes, cidades, cinema, design, filosofia, fotografia, literatura, memória, moda, música... Peço que, ao mencionarem ou reproduzirem o conteúdo deste blog, deem os créditos, especialmente das fontes originais (Mário Santiago)
Arquivo do blog
29.7.21
"Ana. Sem Título", o novo filme de Lucia Murat
Notícias, comentários, críticas sobre o filme
e entrevistas com a diretora serão postados
aqui posteriormente.
26.7.21
Por que as pessoas escrevem?
"Por que as pessoas escrevem? 'Elas escrevem para criar um mundo no qual possam viver', disse Anais Nin (1903-1977). Para a escritora francesa, trata-se de uma atividade absolutamente vital. 'Escrever deve ser uma necessidade, como o mar precisa das tempestades - é a isso que eu chamo respirar.'
E que necessidade é essa, que se impõe não apenas aos (oficialmente) eleitos pelas musas, mas a tantas pessoas comuns? Por que, em um País considerado iletrado, onde a tradição oral é maior que a escrita - e esta tem barreiras muitas vezes intransponíveis -, as pessoas tanto escrevem? Não a escritura obrigatória do trabalho, do estudo, mas aquela que quer voar, transcender. E quer seja boa ou má literatura, é uma viva expressão da individualidade. E quer seja pretensão, exorcismo, orgulho vão ou pura arte deseja chegar ao outro.
Tanta necessidade de criar por meio da palavra escrita resultou em concursos promovidos pelos mais variados setores, em editoras especializadas no autor que não tem espaço no restrito cânone da literatura oficial, em oficinas de literatura e até mesmo em escola de escritores.
Na Bienal Nestlé de Literatura, em seis concursos, de 1981 até 1997, inscreveram-se 49.342 mil pessoas. O volume de obras era de tal forma inadministrável que os organizadores, a partir do penúltimo evento, em 1994 (com 15 mil inscrições), mudaram o regulamento e o nome do evento para Prêmio Nestlé de Literatura, limitando as inscrições a obras já editadas. Em 1997, foram julgados 800 livros.
De cada concurso da Casa do Novo Autor, estabelecida há 11 anos no eixo Rio-São Paulo, participam cerca de 2 mil pessoas (e já foram realizados 110, que publicam cerca de 200 autores por edição). E há tantos outros concursos espalhados pelo País. Herança do grave e fundo sentimento português pelo ato de escrever?
´Também escrevemos para aprofundar o nosso conhecimento da vida', dizia Anais Nin, consagrada especialmente pela exploração do mundo interior feminino em seus sete volumes de diários. 'Escrevemos para aprender a falar com os outros, para testemunhar nossa viagem no labirinto; para abrir, expandir nosso mundo quando nos sentimos sufocados, oprimidos ou abandonados.'
Escrita cotidiana - Abandonado, Raimundo Arruda Sobrinho, de 60 anos, mora no canteiro central da Rua Pedroso de Morais, esquina com a Praça Hernâni Braga, no Alto de Pinheiros, em São Paulo. Sentado em um banco, Raimundo fica ali, escrevendo, a maior parte do dia, todos os dias, há seis anos. Escravizado psiquicamente, como se define, diz que escreve o que precisa. 'Não quero ser lido nem quero ler ninguém', proclama, fechando rapidamente a capa que cobre seus escritos.
Para quem escreve? 'Escrevo para mim.' E o que faz com a produção de todos esses anos? 'Não interessa', rebate, ríspido. Quer saber por que tantas perguntas, é informado que se trata de uma pesquisa com pessoas que, como ele, gostam de escrever. 'Vou processar todos, então tem gente me imitando?', esbraveja.
Quando se acalma, classifica a escrita em três tipos: a vulgar ( aquela do dia-a-dia), a profissional (de jornalistas, tabeliães, etc.) e a artística (dos poetas, dos escritores). 'A minha é a escrita vulgar', diz Raimundo. Vai abrindo a capa que cobre os escritos - sim, ele quer que alguém leia - e surge uma minúscula brochura artesanal, sob o título O Condicionado. O texto, em boa caligrafia, bem construído, é o início de um ensaio sobre quanto as pessoas desconhecem a mente.
'Tudo conspira contra mim', queixa-se Raimundo. 'Para escrever, tenho de enfrentar a sonolência, a caneta que falha e a chuva.'"
25.7.21
Beleza afro - Para a artista Fran Silva
Luta e representatividade: a importância de Tereza de Benguela
22.7.21
Poéticas das cidades 3
Tentando entender o entrecruzamento do cinema com a ficção literária, encontrei esta cena bastante emblemática em um dos episódios da série Onde está meu coração, dirigida por Noa Bressane. Sob os pés desta moça desesperada há uma cidade que não compreende o seu drama pessoal, a cidade espaço da solidão e do desespero individuais. Assistindo, aos poucos e de forma não continuada aos episódios, me senti motivado a refletir, ler, vagarosamente, o fluxo deste bem produzido drama, e esta cena foi, para mim, uma das mais marcantes. Imagem inspiradora, proporciona uma intensa vontade de escrever sobre ela.
Cristiano Mascaro. Um lugar em São Paulo, à noite.
Estilhaços de São Paulo
Preces. Vidros e ossos partidos. Multas. Dúvidas. Uma porta que se abre. Uma mala que se fecha. Disparos. Sirenes. Dinheiro lançado da janela de um carro. Alarmes. Uma espera aflita. Um tênis novinho na sarjeta. Armas de brinquedo. Uma mulher percebendo que tem classe. Contas. Conversas importantes. Correntes e cadeados. Beijos. Caminhões de mudança. Casas de massagem. Sanduíches/refrigerantes. Resultados de exames dormindo em gavetas. Molhos de chaves. Uma poltrona que passa boiando. Fábricas extáticas. Placas de necessidade. Promessas e frituras. Um homem sobrevivendo aos ferros de seu carro. Alguém implorando pra que Jesus dê as caras. Uma bala perdida. O fim.
(Fernando Bonassi. Folha de São Paulo. Ilustrada. 07 de julho de 2001)
O plano diabólico da cidade
Anteontem era um grupo de homens esburacando a avenida, de madrugada. Hoje é um só golpeando a calçada da esquina com uma picareta, fazendo subir o som de uma tarefa demente. Não, isso não é um trabalho noturno, não venham dizer que é para não perturbar o trânsito do dia, se o dia é feito para essas maçadas no caminho. Pois que seja o dia a engolir mais esse caos sobre caos, esse caos dentro de caos, e nos deixem livres as madrugadas, pelo amor dos nossos nervos, ao menos as madrugadas, para alguma paz sobrevivente, de sangue sem sobressalto, alguma bendita coincidência de silêncio fora e dentro.
Mas não. Agora querem nos tomar também esse espaço, essa chance de respiro, querem meter picaretas e britadeiras na pouca paz das nossas crônicas, e ainda mais, nos nossos sonhos, com esses monstruosos gorgolejos de buracos se abrindo. Será um plano diabólico da cidade para o nosso enervamento? Minha filha me disse outro dia: “mamãe, a cidade está brava com você”. Brava comigo, a cidade? Porque eu não gosto dos seus barulhos. Porque sim, eu me revolto, tenho vontade de gritar para que parem, que nos deixem em paz, que deixem a noite em paz, que vão todos para o olho do dia.
Porque não há razão que explique esse gorgolejar infernal de máquina enchendo o ar da avenida na madrugada. E que não cessa, noite após noite, de uma madrugada a outra. Um homem com uma picareta ou três ou quatro em torno de uma máquina pavorosa dessas, de escavar, perfurar, tremer a terra, e o ar da noite está cheio de catástrofe. É mais um prazer diabólico de estorvar, só pode ser. Um plano diabólico da cidade, para ver se aguentamos, e até onde aguentamos, entre ruas esburacadas e os barulhos de esburacar, onde mais nos refugiaremos, agora que nem as noites nos protegem. Onde?
(Mariana Ianelli. Rascunho - Ilustração: Alfredo Aquino)
Anteontem era um grupo de homens esburacando a avenida, de madrugada. Hoje é um só golpeando a calçada da esquina com uma picareta, fazendo subir o som de uma tarefa demente. Não, isso não é um trabalho noturno, não venham dizer que é para não perturbar o trânsito do dia, se o dia é feito para essas maçadas no caminho. Pois que seja o dia a engolir mais esse caos sobre caos, esse caos dentro de caos, e nos deixem livres as madrugadas, pelo amor dos nossos nervos, ao menos as madrugadas, para alguma paz sobrevivente, de sangue sem sobressalto, alguma bendita coincidência de silêncio fora e dentro.
20.7.21
Poéticas das cidades 2
"A praça estava nua. Tão irreconhecível ao luar que a moça não se reconhecia. Também Felipe estacara aliviado: malditos! exclamou empurrando o quepe para trás. Sábado era noite de vários mundos: o tenente tossiu transmitindo-lhes sucessivamente a voz sem palavras. As janelas estremeceram ao relincho. Nenhum vento soprava. Apesar da lua a estátua do cavalo em trevas. Via-se, apenas mais nítida, a ponta da espada do cavaleiro suspendendo fulgor parado. O luar imprimira as mil portas mudas nas portas. E a praça se pasmara na postura torta em que tinha sido tocada. Era o mesmo frio reconhecimento de quando se ouvia a clarineta de um cego... As lajes quase reveladas, mal se podia tocá-las com as botinas. A moça bateu mesmo duas palmas... Que se dividiram imediatamente em salva surda — a praça toda aplaudia. Em menos de um segundo as palmas se separaram e uma ou outra foi sufocar-se nos becos indeterminados pela escuridão. A moça escutou um pouco hostil, as duas mãos afinal enterraram com decisão o chapéu na cabeça. Despediu-se de Felipe dizendo-lhe que não convinha serem vistos juntos."
[...]
"O subúrbio de S. Geraldo, no ano de 192..., já misturava ao cheiro de estrebaria algum progresso. Quanto mais fábricas se abriam nos arredores, mais o subúrbio se erguia em vida própria sem que os habitantes pudessem dizer que transformação os atingia. Os movimentos já se haviam congestionado e não se poderia atravessar uma rua sem desviar-se de uma carroça que os cavalos vagarosos puxavam, enquanto um automóvel impaciente buzinava atrás lançando fumaça. Mesmo os crepúsculos eram agora enfumaçados e sanguinolentos. De manhã, entre os caminhões que pediam passagem para a nova usina, transportando madeira e ferro, as cestas de peixe se espalhavam pela calçada, vindas através da noite de centros maiores. Dos sobrados desciam mulheres despenteadas com panelas, os peixes eram pesados quase na mão, enquanto vendedores em manga de camisa gritavam os preços. E quando sobre o alegre movimento da manhã soprava o vento fresco e perturbador, dir-se-ia que a população inteira se preparava para um embarque."
Para mim este é um dos mais belos livros da Clarice Lispector. Este título fraquenta a minha memória há longo tempo. Eu o li no tempo em que no Brasil se falava muito em "estado de sítio", tempos de muito tolhimento das liberdades individuais e das proibições de reuniões, mesmo que fosse em pequenos grupos. Para os governantes e seu aparato repressor tudo tinha, nos idos anos de 196..., tudo tinha caráter político e por isso mesmo deveria ser reprimido. Ler Clarice, naquele tempo, ajudava a suportar o sombrio clima das proibições. Esta nova edição dos livros da CL, pela Rocco, traz, em suas capas obras pintadas pela própria autora. Além dos belos textos da Clarice, tem-se, também uma bela galeria.(Atualizado em 20/Julho/2021)
19.7.21
Poética Mapuche 2
Interessantíssima matéria sobre a poesia Mapuche, publicada pela revista Cult (edição 271/Julho 2021) e reproduzida no site da revista Outras palavras em 16 deste mês, com a curadoria de Patrícia Lavelle. Nesta publicação sobre a poesia originária, encontra-se um estudo sobre as poetas Graciela Huinao e Roxana Miranda. Matéria altamente recomendável. Hoje mesmo publiquei aqui um texto interessantíssimo do poeta Elicura Chihuailaf.
Poética Mapuche 1
Elicura Chihuailaf
Nadie elige nacer en un lugar, en un color
determinado, en una historia, un idioma, una visión de mundo, nos están
diciendo nuestras ancianas, nuestros ancianos. Mas, la tarea es conocer lo que
nos ha tocado porque conocer es la única posibilidad de amarse y de amar lo que
nos rodea y luego respetar lo que está más allá de nuestros lugares y miradas,
de nuestras famílias y comunidades. Aquí, lejos, y en todas partes. Así nos
está hablando nuestra Gente, en sus Gvlam sus
Consejos. Costumbres de la Mapu Ñuke Madre Tierra
de la que somos brotes; hijas e hijos agradecidos. Identidad dicen en las
culturas occidentales.
Nosotros somos Mapuche/Gente de la Tierra, nos consideramos apenas una parte
más de la Naturaleza. Seguimos las normas que surgen desde sus energías visibles
e invisibles. Asumimos que respiramos y soñamos bajo el influjo de la Luna y el
Sol. Somos emoción y razón; niños y ancianos, ancianos y niños a la vez. La
condición dual que nos rige en la totalidad de nuestra existencia. Itro Fill Mogen: la totalidad sin exclusión, la integridad sin
fragmentación de la vida. ¿Recuerdas que somos apenas una pequeña parte del
universo, abrazados por la dualidad de su energía a la que nos abrazamos?
Porque —en nuestra diversidad— somos Hermanos y hermanas de las estrellas y de
la brizna del más grande y del más pequeño ser vivo aún no nombrado que nos
mira en todo instante desde lo aparentemente invisible, y que nos nombra y nos
pide que lo nombremos para mirarse y mirarnos —cara a cara— desde las flores
del jardín que son nuestros pensamientos.
Los pensamientos, frágiles en su permanencia, indelebles en la profundidad de
la memoria. Las culturas que resuellan en la memoria de los antepasados y
hablan en nosotros y son flores en el Jardín del Mundo. En cada flor, como en
cada ser humano, palpita um color, una forma, un aroma, una textura particular:
la hermosa amarillentud, la hermosa negritud, la hermosa blanquidad, la hermosa
morenidad, que constituyen lo maravilla de este Jardín. Ninguna flor superior a
otra, todas imprescindibles en el orden natural, que no es el “orden”
colonialista sino el aparente desorden: la libertad expresada por las piedras,
los ríos, los árboles, los lagos, las hierbas, los volcanes…, en lo finito
representado por la Tierra; y las estrellas y los planetas en el infinito que
vemos e imaginamos.
Nosotros venimos desde el Azul y retornamos al
Azul; es su energía —el espíritu - que se cobija en su casa transitoria que es
nuestro cuerpo y que en el círculo de la vida vuelve siempre a su lugar de origen.
En Wenulewfv el Río del Cielo/la Vía Láctea nacen y mueren las estrellas, como los seres humanos nacemos y morimos en el gran Río de la Vida. Ante la brevedad de la existencia nuestra tarea debiera ser: superar la precariedade de la Palabra; así nos dijeron nuestros abuelos y nuestras abuelas.
Somos casi ocho mil millones de habitantes en la
Tierra. Ante la codicia de unas pocas familias que siguen depredando la
Naturaleza tenemos que ejercer el acto de Soñar y de Conversar (soñando todo lo
vivido/ conversando todo lo soñado) que hoy es en sí mismo un acto de
subversión porque va en contra del sistema de “progreso” que nos han impuesto.
Recuerden - nos dicen - que, en la dualidad del tiempo circular, habitamos la
frontera finita de lo nombrado, intentando siempre atisbar la infinitud - pletórica de significados - de lo por nombrar.
Pero en este tiempo nuestro espíritu y nuestro
corazón se agitan porque sienten pena al constatar la realidade de cómo nos han
venido enturbiando nuestro caudal de palabras, nuestro colorido de jardín
diverso, su movimiento de oruga imperceptible. Son millones de hectáreas
afectadas por la deforestación y el fuego; millones de animalitos y aves
muertas y desplazadas; millones de insectos desaparecidos. Las plantaciones de eucaliptos
y pinos interrumpiendo el ciclo del agua. Y la lluvia no viene o viene toda de
una vez. En médio de bocinas y ulular de sirenas, en la complicidad del callarse,
del no ver, del “no es para tanto”, “si lo hubiera sabido”, “estuvo/está más
allá de nuestras posibilidades”, que intenta justificarlo todo. El poder. La
cuotita de poder. La terrible complicidad con los que están arrancando las
páginas del gran libro de la naturaleza y, en consecuencia, de todos los
diccionarios en todos los idiomas del mundo. Para consolidar el olvido.
Nosotros, los pueblos nativos, no hemos perdido la
memoria que nos está diciendo que todos los seres humanos —en todos sus
colores— provenimos de antepassados nativos. Por eso, Nosotros y los pueblos
nacionales profundos que hoy empiezan a recuperar su memoria y se rebelan,
decimos: Sí, queremos el desarrollo, pero con la naturaleza y no contra la naturaliza
pues ello nunca será desarrollo sino sólo destrucción.
Liberdade! Liberté!
Neste fim de semana fui agraciado com um inestimável presente, recebido através do Facebook da amiga jornalista Elizabeth Lorenzotti. Tenho ainda na memória (aliás, nada deveria desalojar-se da memória) as palavras do belíssimo poema do escritor Paul Eluard (1895 - 1952), recitado num evento cultural em Manaus, do qual participavam alguns amigos e o poeta Thiago de Mello.
Liberté
Sur mes cahiers d’écolier
Sur mon pupitre et les arbres
Sur le sable sur la neige
J’écris ton nom
Sur toutes les pages lues
Sur toutes les pages blanches
Pierre sang papier ou cendre
J’écris ton nom
Sur les images dorées
Sur les armes des guerriers
Sur la couronne des rois
J’écris ton nom
Sur la jungle et le désert
Sur les nids sur les genêts
Sur l’écho de mon enfance
J’écris ton nom
Sur les merveilles des nuits
Sur le pain blanc des journées
Sur les saisons fiancées
J’écris ton nom
Sur tous mes chiffons d’azur
Sur l’étang soleil moisi
Sur le lac lune vivante
J’écris ton nom
Sur les champs sur l’horizon
Sur les ailes des oiseaux
Et sur le moulin des ombres
J’écris ton nom
Sur chaque bouffée d’aurore
Sur la mer sur les bateaux
Sur la montagne démente
J’écris ton nom
Sur la mousse des nuages
Sur les sueurs de l’orage
Sur la pluie épaisse et fade
J’écris ton nom
Sur les formes scintillantes
Sur les cloches des couleurs
Sur la vérité physique
J’écris ton nom
Sur les sentiers éveillés
Sur les routes déployées
Sur les places qui débordent
J’écris ton nom
Sur la lampe qui s’allume
Sur la lampe qui s’éteint
Sur mes maisons réunies
J’écris ton nom
Sur le fruit coupé en deux
Du miroir et de ma chambre
Sur mon lit coquille vide
J’écris ton nom
Sur mon chien gourmand et tendre
Sur ses oreilles dressées
Sur sa patte maladroite
J’écris ton nom
Sur le tremplin de ma porte
Sur les objets familiers
Sur le flot du feu béni
J’écris ton nom
Sur toute chair accordée
Sur le front de mes amis
Sur chaque main qui se tend
J’écris ton nom
Sur la vitre des surprises
Sur les lèvres attentives
Bien au-dessus du silence
J’écris ton nom
Sur mes refuges détruits
Sur mes phares écroulés
Sur les murs de mon ennui
J’écris ton nom
Sur l’absence sans désir
Sur la solitude nue
Sur les marches de la mort
J’écris ton nom
Sur la santé revenue
Sur le risque disparu
Sur l’espoir sans souvenir
J’écris ton nom
Et par le pouvoir d’un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer
Liberté.
13.7.21
Poéticas das cidades 1
A partir de hoje, 13 Jul. 2021, uma nova seção (ou novas ruas) será (aberta)incorporada a este blog - Poéticas das cidades, na qual pretendo mostrar e dialogar sobre as confluências, esquinas e cruzamentos entre as artes, a literatura e a filosofia. Quem puder caminhar por estas ruas está, desde logo, convidado.
Edvard Munch. Entardecer em Karl Johan, 1892
A iluminação noturna transfigura a cidade.
[...]
"Ô soir, aimable soir, désiré par celui
Dont les bras, sans mentir, peuvent dire : Aujourd'hui
Nous avons travaillé ! — C'est le soir qui soulage
Les esprits que dévore une douleur sauvage,
Le savant obstiné dont le front s'alourdit,
Et l'ouvrier courbé qui regagne son lit.
Cependant des démons malsains dans l'atmosphère
S'éveillent lourdement, comme des gens d'affaire,
Et cognent en volant les volets et l'auvent.
À travers les lueurs que tourmente le vent
La Prostitution s'allume dans les rues ;
Comme une fourmilière elle ouvre ses issues ;
Partout elle se fraye un occulte chemin,
Ainsi que l'ennemi qui tente un coup de main ;
Elle remue au sein de la cité de fange
Comme un ver qui dérobe à l'homme ce qu'il mange.
On entend çà et là les cuisines siffler,
Les théâtres glapir, les orchestres ronfler ;
Les tables d'hôte, dont le jeu fait les délices,
S'emplissent de catins et d'escrocs, leurs complices,
Et les voleurs, qui n'ont ni trêve ni merci,
Vont bientôt commencer leur travail, eux aussi,
Et forcer doucement les portes et les caisses
Pour vivre quelques jours et vêtir leurs maîtresses."
Charles Baudelaire, Le crépuscule du soir, in Les fleurs du mal (1857)- Gallimard
"Fais une croix aux quatre fronts des horizons.
Car c’est la fin des champs et c'est la fin des soirs ;
le deuil au fond des cieux tourne, comme des meules,
ses soleils noirs ;
et des larves éclosent seules
aux flancs pourris des femmes qui sont mortes.
à l'orient du pré, dans le sol rêche,
sur le cadavre épars des vieux labours,
domine là, et pour toujours,
plaque de fer clair, latte de bois froid,
la bêche."
Émile Verhaeren, Le Fléau, in
Les campagnes hallucinées,(1895) Gallimard
Gustav Klimt. Malcesine, 1913
É a cidade que habita os homens ou são eles que moram nela?
(Atualizado em 15/Julho/2021)
12.7.21
Literatura e refúgio
11.7.21
O centenário do pensador
Edgar Morin – lições de um centenário (Fagner Torres de França, Eugênia Maria Dantas e Josineide Silveira de Oliveira,no site A Terra é redonda): "No entanto, ´onde cresce o perigo, cresce também aquilo salva´. Essa frase, que Morin havia lido ironicamente em um poeta alemão, Hölderlin, o ajudou a formular uma das bases mais fortes de seu pensamento: o princípio da incerteza. É preciso saber esperar o inesperado."
Edgar Morin, 100 anos (Antônio Sales Rios Neto, no site A Terra é redonda): “Com frequência, é preciso ser um desviante minoritário para estar no real. Embora, aparentemente, nele não haja nenhuma perspectiva, nenhuma possibilidade, nenhuma salvação, a realidade não está paralisada para sempre, ela tem seu mistério e sua incerteza. O importante é não aceitar o fato consumado” (Edgar Morin).
Cem anos de sabedoria e complexidades (Marcelo Rollemberg, Jornal da USP): “A história humana é relativamente inteligível a posteriori, mas sempre imprevisível a priori.”
“Cette épidémie nous apporte un festival d’incertitudes. Nous ne
sommes pas sûrs de l’origine duvirus : marché insalubre de Wuhan ou laboratoire
voisin, nous ne savons pas encore les mutationsque subit ou pourra subir le
virus au cours de sa propagation. Nous ne savons pas quand l’épidémierégressera
et si le virus demeurera endémique. Nous
ne savons pas jusqu’à quand et jusqu’à quelpoint le confinement nous fera subir
empêchements, restrictions, rationnement. Nous ne savons pasquelles seront les
suites politiques, économiques, nationales et planétaires de restrictions
apportéespar les confinements. Nous ne savons pas si nous devons en attendre
du pire, du meilleur, unmélange des deux : nous allons vers de nouvelles
incertitudes.” (Entrevista ao Le Monde, 7 Jul. 2021)
"Marinheiro das montanhas"
Edvard Munch, Elgersburgo, de 1905.
Edvard Munch
Modigliani
Ricardo Piglia - Ler e narrar como forma de ser
O estado e a cidadania
Jean-Michel Basquiat
Ângela Prysthon e a importância da crítica diária
7.7.21
O "desencantamento do mundo" acadêmico
6.7.21
J.S. Bach. Cello Suite no. 4 in E-flat major BWV 1010
Bruno Cocset - Netherlands...
J.S. Bach'. Suite for Solo Cello no. 4 in E-flat major, BWV 1010 Prelude...
Yegor Dyachkov. Muito bom!
Chaconne/Violin Partita No. 2, BWV 1004, de J. S. Bach
Na publicação, um belo comentário de Alberto Alexandre
sobre o violonista Edson Lopes.
5.7.21
Os "Psiconautas", de Marcelo Leite.
Folha de São Paulo 3 Jul. 2021
Leyla Perrone-Moisés relembra Cortázar e Leminski em textos de memória
"As memórias são um gênero cultivado por pessoas longevas que têm muito a contar sobre suas vidas. Eu não tenho nada de especial para contar a meu respeito, mas tenho muito a contar sobre pessoas que conheci." (Leyla Perrone-Moisés. Revista Rascunho)
Outro Renascimento?
Recebi esta imagem ontem, postada por Gabriella Truzzi em um grupo de amigos no Facebook. Sua autora é a artista britânica Jenny Saville...