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22.4.21

Lembrando do Abbas Kiarostami em São Paulo



    Abbas Kiarostami - 1940/2016.  Foto: Google

Uma boa boa cidadã
"São cerca de 5h da tarde, e as ruas estão cheias. Pessoas que voltam do trabalho. O trânsito é intenso e o sol de primavera em breve vai se pôr, no fim da avenida. Está tão quente que parece verão, e talvez seja esse calor prematuro o que convida essa gente bonita a sair para dar as boas-vindas à estação que nem se iniciou. Sua beleza particular e seu jeito de andar, também particular, atraem a atenção. E, em meio à multidão, destacam-se rostos marcantes, incomuns.

O rosto de um menino cuja aparência não esconde sua condição de criança de rua é, ao mesmo tempo, diferente e atraente. Seus olhos estão cobertos por um boné de croché preto. Não se pode vê-los. Ele está usando um short preto velho e cheio de buracos sobre uma calça branca enfiada em meias com padrões amarelos. Nos pés, sapatos de algodão cor-de-laranja. O menino carrega no ombro uma bolsinha branca com uma leveza tal que parece que ela está cheia de ar. Ele se move com determinação e auto-confiança. Sua aparência, seu jeito de vestir e de andar me levam a segui-lo. Lembre-se de que não tenho nada para fazer e quero matar o tempo."
(Trecho de um artigo em que o diretor iraniano 
Abbas Kiarostami narra um de seus passeios pela avenida Paulista em 1994, quando ele estava em São Paulo Mostra Internacional de Cinema.  Folha de São Paulo. Caderno Mais!  11 Jan. 1998).

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