Arquivo do blog

1.6.21

Sobre o cronópio Cortázar

"Siempre seré como un niño para tantas cosas, pero uno de esos niños que desde el comienzo llevan consigo al adulto, de manera que cuando el monstruito llega verdaderamente a adulto ocurre que a su vez éste lleva consigo al niño, y nel mezzo del camin se da una coexistencia pocas veces pacífica de por lo menos dos aperturas al mundo." (Julio Cortázar, em Valise de Cronópio)


      Julio Cortázar. Buenos Aires, dezembro/1983.
  Foto: Mario Paganetti




"Último telefonema para o Cronópio - Como Julio Cortázar mudou minha vida" 

"É o seguinte: o Cortázar faria 100 anos por esses dias, não fosse a suprema gafe de ter morrido. Isso não é coisa que se faça, sobretudo se o cara é um cronópio certificado por despeitabilíssimos institutos interplanetários de Patafísica Aplicada, Surrealismo Off-Road, Transumância à la Mode e Línguas Glíglicas, Esperânticas e Transgalácticas. E sendo que o Cortázar, inda por cima, foi egrégio diretor-presidente-em-exercício-moderado de todas essas entidades da mais ilibada e desequilibrada inexistência.

Fico imaginando as deliciosas autoironias com que Julio Cortázar haveria de brindar seus 100 anos, iniciados cartorialmente no dia 26 de agosto de 1914, mas com toda certeza tramado nove meses antes, como é praxe na espécie humana, cronópios, famas e esperanças incluídos. Pra começar, aos milhares de jornalistas do mundo todo ávidos por uma declaração sua, ele anunciaria ter baixado a categórica proibição de bolo com 100 velinhas na sua festa, em vista da alarmante quantidade de perdigotos que um ancião centenário é capaz de borrifar em cima de um bolo ao tentar soprar 100 velinhas, junto com alguma eventual prótese dentária que lhe possa escapar da boca. Sem falar no risco de um AVC por excesso de esforço expiratório lá pela sexagésima velinha, com o pobre macróbio emborcando de cara no alvo e cremoso chantilly, que lástima, tão cobiçado pelos convivas. Um trespasse do aniversariante, nessas condições, seria um duro golpe pros seus amigos, em especial suas amigas e fanzocas de época, já bem velhinhas elas também, que teriam ido à festa com alguma dificuldade locomotora para vê-lo apagar as velinhas e pra comer o bolo e se refestelar com o chantilly da cobertura, visto que depois de um certo número de décadas vividas já não há muitos prazeres na vida maiores do que bolo com cobertura de chantilly, e de graça [...]." (Reinaldo Moraes. Memórias literárias. Revista Piauí. Edição 95 - Agosto 2014)



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Hanehmann Bacelar Um pintor Amazonense